Tradicionalmente um lugar de vocação marítima e piscatória, dependente da benevolência ou dos desfavores do mar, Alvor é na actualidade uma importante estância turística virada para o futuro, face a uma imparável expansão demográfica e um crescente desenvolvimento económico e social. Segundo alguns estudiosos na actual Alvor terá sido fundado em 436 a. C, pelo general cartaginês Aníbal Barca, um entreposto comercial com o nome de Portus Hannibalis.
Contudo, o povoado primitivo nasceu e desenvolveu-se junto ao mar, no local chamado de Vila Velha, onde existiu um castro celtibérico da Idade do Ferro, com domínio sobre o rio, que se crê ser a importante cidade de Ipses, que teve direito a cunhar moeda, depois absorvida pela Romanização, cujos vestígios já foram comprovados pela Arqueologia. Tomada pelos mouros em 716, a aldeia passou a chamar-se de Albur (campo inculto) e ganhou um imponente castelo de que hoje apenas restam alguns troços. Este bastião foi conquistado por D. Sancho I, a 3 de Junho de 1189, com o auxílio dos Cruzados mas, perdido dois anos depois, só foi definitivamente reconquistado em 1250. Reedificado por D. Dinis em 1300, serviu durante cerca de 500 anos de fortificação militar de defesa da costa, contra os piratas e corsários, até ser derrubado pelo Terramoto de 1755. Por carta de D. Afonso V, datada de 22 de Maio 1469, Alvor foi erigida em condado e senhorio a favor de D. Afonso, conde de Faro. Todavia, o condado não teve continuação visto este nobre ter sido implicado na conspiração contra D. João II, em 1483/84, revertendo, por isso, de novo para a coroa. Alvor aparece estreitamente ligada ao rei D. João II, que aqui morreu em 25 de Outubro de 1495, no palacete «sumptuoso» de Álvaro de Ataíde, na Rua do Poço, desenganado dos banhos hidromedicinais das Caldas de Monchique. Por vontade expressa do Príncipe Perfeito, dias antes de morrer, Alvor seria elevada a vila por D. Manuel, por carta de 28 de Fevereiro de 1495, acto confirmado por outro diploma datado de 28 de Dezembro de 1498, sendo então desligada de Silves. Nas últimas décadas do século XV havia em Alvor uma judiaria, à semelhança de outras terras importantes do Algarve.
A Igreja Matriz foi levantada nos primórdios do século XVI, sob auspícios dos Ataíde, alcaides-mores da vila, donatários de avultados privilégios e senhores de boas rendas, sendo provável que tenha sido erigida por Álvaro de Ataíde (filho), que foi alcaide a partir de 1497.
Desta época de prosperidade será também a Santa Casa da Misericórdia, embora o primeiro documento que sobre ela existe esteja datado de 1652. Segundo João Baptista da Silva Lopes, a vila só teve foral no tempo de Filipe I, datado de 13 de Dezembro de 1585. Frei João de S. José, em 1577, apresenta Alvor como uma terra afortunada dizendo que na vila «entram barcos, naus e navios carregados». Anos depois outro autor, Henrique Fernandes Serrão (1606), refere-se aos seus duzentos e quarenta fogos, ao seu castelo guarnecido de «grossa artilharia», às ruínas de uma antiga fortaleza que servia de pedreira para outras construções, à abundância de peixe e marisco, marinhas de sal, «vinhos afamados», passas e trigo. Menciona também as povoações de Montes de Baixo e Montes de Cima, ou dos Freires, uma importante família nobre local. Por carta régia de D. Pedro II, datada de 4 de Fevereiro de 1683, a vila de Alvor foi novamente erigida em condado, na pessoa de Francisco de Távora (f.1710), nobre que ocupara altos cargos e se distinguira na Batalha de Montes Claros. O título passou depois para Bernardo de Távora (2.º conde), e Luís Bernardo de Távora (3.º conde) em quem se extinguiu devido ao processo e suplício dos Távora em Belém, a 13 de Janeiro de 1759. Todavia, a supressão do condado não impediu que a rentável alcaidaria-mor continuasse na Casa de Cadaval. O Terramoto do 1.º de Novembro de 1755 e os embates do terrível maremoto que penetrou vila adentro, arrasou casas, e derrubou o castelo, a torre do Facho e a ermida de Nossa Senhora da Ajuda. A igreja matriz ficou rachada e morreu apenas uma pessoa. A onda devastadora alterou completamente o rio e fez baixar a população para cerca de mil habitantes. O revés sofrido pelos Távoras provocou a supressão do condado e a incorporação dos seus bens na Casa das Rainhas, até 1773, ano em que o termo foi integrado como aldeia e freguesia no concelho de Portimão. O rei D. Sebastião visitou o concelho de Portimão entre o Sábado 24 e Terça-feira 27 de Janeiro de 1573, tendo estado em Alvor no dia 24, e também a 25, quando foi visitar as casas (então arruinadas) onde em 1495 morreu D. João II. A alcaidaria-mor de Alvor pertencia então ao conde de Odemira. João Baptista da Silva Lopes (1841) apresenta a aldeia como «grande e rica», com ostras e amêijoas no rio e campos bem cultivados. A barca de passagem continuava a ser de donatário e colmatava a falta de uma ponte. Refeita do cataclismo de 1755, a aldeia acusava em 1900 uma população de 3014 almas. Os pescadores de Alvor possuíram em tempos um Compromisso, que estava instituído na ermida de N.ª Senhora dos Prazeres e já existia em 1754. Na actualidade Alvor voltou a ser extensa, lembrando os tempos áureos de antes do Terramoto, em que «os três ferreiros da terra não se ouviam uns aos outros». A Restauração do estatuto e dignidade de vila (mas não de concelho) deu-se a 14 de Abril de 1988, através da Lei 42/88, uma vez que a constante expansão demográfica e o seu desenvolvimento económico, cultural e social assim o exigiam.
Gentilmente cedido por: @ José Rosa Sampaio