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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Gazeta do Algarve - Lagos em 1 de junho de 1875


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Postais Antigos - Vila do Bispo


Postais Antigos - Lagos - Ribeira de Aljezur


As “passinhas do Algarve” na seca de 1875 ou o retrato social e económico da região


A década de 70 do século XIX foi dramática para os algarvios. Anos consecutivos de seca fizeram soar as campainhas de alarme na capital do reino, Lisboa, em maio de 1875.

Na verdade, o clima mediterrânico, onde o Algarve se insere, carateriza-se por uma precipitação baixa e irregular, sendo frequentes anos de estiagem, em alternância com outros mais húmidos, com cheias e inundações. Todavia, a seca por aqueles anos tornou-se medonha e com ela a fome e a sede ameaçaram aniquilar os algarvios.

Em 15 de julho de 1874, já o periódico lacobrigense “Gazeta do Algarve” noticiava a extraordinária seca que se sentia na região: “que esterilisou os nossos campos, destruiu regadios importantes e empobreceu fontes que nunca accusaram a falta ou carência absoluta d’água”.

Mas se aquele ano agrícola não deixou saudades, o de 1875 seria dramático. O céu não verteu uma gota de água, principalmente no barrocal e litoral, de tal forma que, na edição de 21 de abril de 1875, o mesmo jornal pressagiava “com a velocidade da successão do tempo vamos caminhando para uma crise alimenticia assustadora”, para depois acrescentar que “nenhumas esperanças há já de que a agricultura produza o sufficiente para a sustentação dos habitantes da província, nem pastos haverá em quantidade bastante para a alimentação do gado”.

A 2 de junho, o mesmo periódico fazia o balanço das colheitas na zona de Lagos, dizendo que, a produção era tão fraca, que, das searas, resultou uma semente e meia, e, do arvoredo, perspetivava-se um quarto do que seria colhido num ano normal. Em suma, uma calamidade abatia-se sobre o Algarve.

Com uma agricultura de subsistência, dois anos agrícolas maus comprometiam não só toda a alimentação, como inviabilizavam novas sementeiras. Afinal, apesar de terem sido deitadas à terra, as sementes não germinaram, ou, se tal aconteceu, não geraram nova semente. Também as árvores ameaçavam secar, mormente as figueiras, primordiais na economia regional, colocando em causa a produção anual e de vários anos subsequentes.

Numa época ainda longínqua para o estado social, onde a principal atividade da governança era a cobrança de impostos, a situação catastrófica da região, aliada aos gritos lancinantes dos algarvios, forçaram o governo a agir.

Assim, por portaria de 15 de maio de 1875, foi ordenado ao governador civil, o advogado José de Beires (Lamego, 1825-Lisboa, 1895), que percorresse todo o distrito com o objetivo de colher informações exatas acerca dos prejuízos causados pela falta de chuvas.

Aquele magistrado saiu de Faro a 23 de maio, iniciando a visita por Vila do Bispo, e sucessivamente percorreu todas as sedes dos concelhos e a maioria das freguesias da região, regressando à capital algarvia a 10 de junho.

É difícil imaginarmos as condições da viagem. É que, se por um lado e na sequência da Regeneração, avançava a construção de algumas vias macadamizadas, por outro a lentidão dos trabalhos e os parcos recursos faziam com que predominassem as velhas estradas medievais, quase sempre veredas.

Quanto ao caminho de ferro, além de um pequeno troço fantasma, construído entre Faro e Boliqueime, não descia além de Casével (Castro Verde), então a estação que servia o Algarve.

José de Beires reuniu-se com as autoridades locais (câmara e conselho municipal), os maiores contribuintes prediais, párocos e regedores das freguesias, deslocando-se ainda a uma ou outra aldeia, para se inteirar in loco das sequelas da longa estiagem.

Nas reuniões, recolhia informações sobre a gravidade da situação, bem como propostas para minorar a crise. Da sua visita, resultou um longo e detalhado relatório que enviou ao governo, com a descrição da conjuntura agrícola, económica e também social de todas as freguesias e concelhos do Algarve. Exposição complementada com sugestões que considerava pertinente executar para evitar a indigência dos algarvios.

A minúcia da sua descrição permite-nos hoje conhecer não só os efeitos da seca, em todas as freguesias, mas também as principais culturas que então se praticavam e a sua produtividade em anos regulares. É, pois, apoiados pela pena daquele magistrado, cujo relatório foi publicado na “Gazeta do Algarve”, que nos propomos revisitar o Algarve entre 23 de maio de 10 de junho de 1875.

Como se referiu, o governador iniciou o périplo pelo concelho de Vila do Bispo. Este compunha-se de serra inculta e extensos terrenos de lavoura, vivendo a população quase exclusivamente da agricultura. Tal como em toda a região, a propriedade encontrava-se muito compartilhada.

Pela quantidade de cereais que produzia e exportava, era considerado o celeiro do Algarve. Por sua vez, o número de árvores e vinhedos era diminuto, apenas junto das povoações e para “recreio”, como referia. Ainda assim, existiam algumas plantações novas de figueiras.

Quanto aos efeitos da seca em Budens, escreveu José de Beires:
“N’esta freguezia, como nas outras do concelho, cultiva-se apenas o trigo, cevada, raros centeios, grão, chicharo e milho. É, porém, no trigo que consiste a sua principal riqueza agrícola.
Apresentaram-se as searas com magnifico aspecto no principio do anno, e attingiram pela maior parte um desenvolvimento superior ás searas dos outros concelhos, especialmente nas chamadas — terras de dentro — terrenos baixos e verdes, que são por isso menos exigentes de copiosas chuvas. Mas, a final, a prolongada estiagem tolheu n’umas o completo desenvolvimento da espiga e produziu n’outras a sua morte prematura, restando apenas n’estas o feno e algum grão mirrado. Calcula-se que ainda assim a média da producção será de 50 por cento d’uma colheita regular. Das sementeiras serôdias nem a semente se espera”.

Relativamente às freguesias da Raposeira e Vila do Bispo, a situação era idêntica. Quanto a Sagres:
“É a freguezia que mais soffre com a estiagem. Tem os mesmos géneros de cultura, mas são maiores os estragos nas searas.
A producção ha de ser inferior á das outras freguezias. Ha também ali absoluta falta de agua potável. O destacamento militar que existe na praça de Sagres abastece-se da Villa do Bispo, que dista uns 6 kilometros”.

Da terra, já haviam inclusive emigrado alguns indivíduos para as minas. Em resumo, era em Sagres que a seca atingia o seu zénite no concelho, até pela carência de água potável. Por outro lado, a ausência de arvoredo no município não permitia colmatar, com os frutos, a fraca colheita de cereais.

Feito o diagnóstico de Vila do Bispo, José de Beires seguiu para Aljezur. No concelho, o arvoredo era escasso, oliveiras, sobreiros e laranjeiras eram as árvores principais. Também as vinhas eram aqui diminutas.

Sobre a Bordeira escreveu:
“É situada esta freguesia no interior da serra, e a sua cultura, quasi única, é de cereaes e milho. No sitio da Carrapateira, um dos melhores da freguezia, houve já no anno anterior grande escacez de colheitas, tendo os lavradores de recorrer a empréstimos para poderem occorrer ás despezas agricolas do presente anno. As searas apresentam-se melhores do que as do anno passado; mas em relação a um ano regular produzirão um terço a menos. No resto da freguezia apenas estão soffriveis as searas dos terrenos baixos. As sementeiras serodias consideram-se perdidas.”

Por sua vez, em Aljezur:
“Compõe-se esta freguezia, principalmente de terreno de serra, em grande parte inculto, e de uma extensa várzea, terra de primeira qualidade, cuja cultura, quasi exclusiva, foi de arroz e milho até 1872. A sementeira de arroz está hoje limitada a uma pequena area; no resto foi substituida, primeiro por milho e agora por trigo. As searas ali promettem abundante colheita, sendo talvez as melhores de todo o districto. Ainda assim os lavradores queixam-se da estiagem que não lhes permitte, depois das ceifas, aproveitar os mesmos terrenos para outra sementeira, como costumam. Fora da várzea, as searas, que são em muito maior quantidade, offerecem colheita escassa. Calcula-se, por isso que a producção geral da freguezia será inferior em um terço á de um anno regular.”

Na vila já se importava farinha, sendo que as sementeiras de milho, feijão e grão prognosticavam uma colheita muito inferior ao normal. Já em Odeceixe, a situação era semelhante à sede de concelho.

Em termos gerais, Aljezur era o município do Algarve que menos sofria com a crise alimentícia e para tal muito contribuía a várzea da ribeira.

Ainda assim, notava o magistrado que a ausência de trabalho levara alguns aljezurenses a emigrar, o que nunca sucedera em anos anteriores.

Como medida minimizadora, propunha a construção de um lanço da estrada distrital a partir de Aljezur, o que abonaria trabalho para a classe operária das três freguesias.

Visitados os concelhos de Vila do Bispo e Aljezur o governador civil partiu para Lagos, onde se encontrava em 28 de maio.

Informação retirada daqui
Autor: Aurélio Nuno Cabrita, engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional, colaborador habitual do Sul Informação

Postais Antigos - Lagos


Postais Antigos - Monchique


Postais Antigos - Praia da Luz - Lagos


Postais Antigos - Lagos


Postais Antigos - Portimão


As “passinhas do Algarve” na seca de 1875 ou o retrato social e económico da região – Lagos, Monchique e Portimão


Face à calamidade que se abatera sobre o Algarve, na sequência de dois anos consecutivos de seca, o governo foi forçado a agir, para minimizar a catástrofe que ameaçava aniquilar os algarvios.

Assim, por determinação governamental o governador civil de Faro, José de Beires, visitou todo o distrito, entre 23 de Maio de 10 de Junho de 1875, recolhendo informações sobre o real estado agrícola e social da província, bem como eventuais medidas, para atenuar a fome e sede que aterrorizavam os nossos trisavós.

Nesta sequência e após percorrer Vila do Bispo e Aljezur, dirigiu-se para Lagos, onde, a 28 de Maio, segundo o periódico local “Gazeta do Algarve”, à semelhança dos concelhos anteriores e subsequentes, José de Beires se reuniu com a Câmara, Conselho Municipal, os 40 maiores contribuintes, párocos e regedores das freguesias.

Lagos era então o maior produtor de figo do Algarve, arrolando também uma importante produção de amêndoa. Todavia, ambas as colheitas ameaçavam ser ainda mais diminutas que no ano anterior, de má memória.

As figueiras, definhadas, quase não haviam rebentado e as esparsas e mal desenvolvidas folhas já se encontravam amarelecidas, como se estivéssemos no Outono.

Pelo exposto, estimava aquele magistrado que a colheita média atingiria, quando muito e caso a longa estiagem não tolhesse o pouco fruto que apresentavam, a quarta parte de uma produção regular.

No concelho de Lagos, já eram visíveis árvores secas, sendo que um dos maiores produtores locais estimava o valor da perda de figueiras e amendoeiras na ordem de 1:000$000 réis.

Por outro lado, como lembrava José de Beires, o progressivo aumento do calor nos meses de Verão poderia causar a morte a grande parte do arvoredo adulto, inviabilizando, caso se concretizasse, as colheitas durante vários anos, o que constituiria “o maior de todos os prejuízos”. Vejamos agora, guiados pelo seu relato, os prejuízos em cada freguesia.

Em Bensafrim:
“É a freguezia que confina com a serra, e que menos prejudicada se acha com a falta de chuvas. O arvoredo (figueiras) comquanto apresente um aspecto pouco productivo, não se tem perdido. Os cereaes serão um terço a menos de uma colheita regular. As sementeiras serôdias é que não produzirão a semente”.

Se, na área serrana do concelho, as consequências da estiagem não eram avassaladoras, o mesmo não acontecia junto ao litoral.

Na Luz:
“O arvoredo, principal riqueza d’esta freguezia, acha-se consideravelmente deteriorado, e algum está já perdido. As searas em péssimo estado. As únicas soffriveis são as que se encontram nas terras limpas de arvores, nas proximidades de Espiche e Almadena, e que constituem uma insignificante parte da freguezia. A producção media de cereaes foi calculada em duas sementes; e a do figo na quarta parte de uma producção regular. Do serôdio, nem a semente.”

Quanto à freguesia de Odiáxere:
“Arvoredo em geral pouco promette. As searas pela maior parte não produzirão a semente, só as que se acham nas varseas dão esperança de dobrar a sementeira. Os serôdios, ainda mesmo chovendo, pouco ou nada produzirão.”

Por fim as freguesias da cidade, em Santa Maria:
“É a freguezia que se acha em peiores circumstancias, por ser aquella onde apparece mais considerável perda de arvoredo. As searas nem feno produziram, são colhidas á mão, e assim levadas aos palheiros. Dos legumes nada ha a esperar.”

Em S. Sebastião:
“O arvoredo em mau estado. As searas só no paul produzirão 3 a 4 sementes, quando a producção regular é de 12 a 15. No resto da freguezia poderá esperar-se, quando muito, uma semente. A agua vae escasseando nas noras e poços.”

Os lacobrigenses, principalmente do litoral, estavam duramente afetados pelo longo estio, não só pelas parcas colheitas de cereais, mas também pela perda de arvoredo, inexistência de produtos hortícolas e até o abastecimento público poderia estar em causa a breve trecho.

A tudo isto juntavam-se os salários, que haviam descido comparativamente com anos anteriores. Quanto a medidas de mitigação, José de Beires sugeria a construção do primeiro lanço da estrada distrital de Lagos a Aljezur, o qual permitiria “occupar muitos braços disponíveis e remediar muitas necessidades”.

Feito o diagnóstico em terras de São Gonçalo, o governador prosseguiu para Monchique. Este concelho, pela sua localização serrana, apresentava algumas singularidades, desde logo não tinha amendoeiras ou figueiras, então a principal riqueza do Algarve, no entanto não era pobre, antes pelo contrário.

Nele abundavam castanheiros e pomares de laranjeiras, pereiros e outras árvores, as quais, face à abundância de nascentes de água, eram irrigadas frequentemente.

Em resultado, abastecia de frutas e madeiras de castanho toda a região, além de exportar quantidade expressiva para outros locais. Note-se que a reputação dos peros de Monchique chegou aos nossos dias.

A tudo isto e em oposição ao Baixo Algarve, ali havia chovido naquele Inverno, embora não tanto como o habitual, encontrando-se algumas nascentes esgotadas. José de Beires calculava que a disponibilidade de recursos hídricos apenas permitia irrigar metade dos terrenos, relativamente a anos regulares, existindo nos monchiquenses algum temor pela perda de árvores.

Observemos agora os principais danos em cada freguesia.
Sobre o Alferce escreveu o governador:
“É a freguezia menos productora do concelho. Tem cultura insignificante de cereaes, milho e feijão. Todas as sementeiras apresentam soffrivel aspecto, especialmente depois das ultimas chuvas que ali caíram. O arvoredo, cultura principal, não está tão desenvolvido como nos annos regulares. Receiam os proprietários perda de fructo porque as nascentes vão seccando, faltando por isso agua para regar todo o arvoredo”.

Na outra extremidade do município, em Marmelete:
“Tem boas searas, e as sementeiras serôdias podem dar uma producção regular, continuando a chover. O arvoredo, no mesmo estado do do Alferse”.

Quanto à vila:
“Monchique tem poucas searas e essas soffriveis. O milho e feijão, como na freguezia do Marmelete. O arvoredo no mesmo estado. Alguns proprietários informaram ter já perdido algumas árvores, por falta de regas, e que o fructo é em geral escasso”.

Não obstante estas contrariedades, Monchique era o concelho menos atingido pela calamitosa seca.

Em situação diferente encontrava-se Vila Nova de Portimão, município examinado de seguida. Aqui abundava o pomar tradicional de sequeiro, a amendoeira, figueira e alfarrobeira, sendo os prejuízos provocados pela estiagem superiores aos de Lagos. Havia mais árvores secas e as que subsistiam apresentavam menos fruto, encontrando-se as folhas em queda adiantada, principalmente junto à costa.

As searas, na generalidade, nem feno haviam produzido, e sem ele faltava alimento para os gados. A juntar a tudo isto, os melhores terrenos apresentavam o pior aspeto.

Em termos de freguesias principiemos pela Mexilhoeira Grande, guiados pela pena daquele excursionista:
“A sua cultura principal é de arvoredo – figueiras, amendoeiras e oliveiras. Todas se acham em deplorável estado, havendo já a perda de muitas amendoeiras e figueiras. A producção d’estas será de uma vigessima parte de uma colheita regular. As oliveiras perderam toda a flor sem deixar fructo. Quanto a cereaes, bem poucos colherão um décimo de uma producção ordinária. A maior parte das searas apenas apresentam palha e tão curta que só pôde ser apanhada á mão. As sementeiras serôdias irremediavelmente perdidas”.

Já em Alvor:
“A sua riqueza principal consiste em vinhas. Apresentam abundância de cachos, mas receia se que a estiagem prejudique o seu desenvolvimento. As outras culturas não estão melhores do que as da freguezia da Mexilhoeira”.

Por fim, Vila Nova de Portimão:
“Exceptuando as searas da várzea do Boina, pertencente ao Reguengo, que estão superiores ás de um anno regular, todas as mais estão em idênticas circumstancias ás das outras freguezias. Do mesmo modo as sementeiras serôdias e o arvoredo, que em alguns sitios se acha já perdido”.

A situação económica e social dos portimonenses era pois periclitante, sem trigo, azeite ou frutos secos, a que se adicionava a ausência de forragens para os animais, quanto muito teriam uvas de Alvor. Ainda assim, por motivos que ignoramos, José de Beires não elencou qualquer medida de mitigação.

Melhor sorte não tinha Lagoa, na outra margem do Arade, para onde aquele magistrado se dirigiu, não pela ponte rodoviária, que se encontrava em construção desde o ano anterior, mas certamente pela barca de passagem, dado que primeira só ficaria concluída em Julho de 1876.

Mas estes eram outros constrangimentos de uma região em crise e sedenta de apoios para não sucumbir. Já em Ferragudo, o governador observou “as mais deploráveis condições” …
(continua)

Informação retirada daqui
Autor: Aurélio Nuno Cabrita, engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional, colaborador habitual do Sul Informação

Novo hotel de luxo do Grupo Pestana prevê construir 100 alojamentos para os seus trabalhadores


O futuro hotel de luxo Pestana Quinta da Amoreira, em Alvor, cuja primeira pedra foi ontem colocada com a presença do ministro da Economia, é duplamente pioneiro: será o primeiro «all inclusive de 5 estrelas» construído de raiz em Portugal e contempla a construção de 100 alojamentos para um terço dos trabalhadores que irá empregar.

É que a mão de obra qualificada, e em quantidade, de que irá necessitar a nova unidade hoteleira é um problema a resolver até à sua abertura, anunciada pelo próprio Dionísio Pestana para «o Verão de 2019».

O ministro Manuel Caldeira Cabral disse que no Algarve, «a instabilidade do emprego marcado pela sazonalidade é um problema».

E o que se pretende aqui, no futuro Pestana Quinta da Amoreira, é precisamente contrariar essa sazonalidade, criando emprego permanente, ao longo de todo o ano.

Mas, tendo em conta a escassez de mão de obra no Algarve – de que se queixam as lojas prestes a abrir nos novos Mar Shopping e Designer Outlet Algarve, junto ao IKEA – há que atrair trabalhadores de fora da região…e resolver de uma assentada dois dos seus principais problemas, o alojamento e o transporte.

Mas há também que apostar na formação desses futuros trabalhadores. «300 postos de trabalho diretos não é despiciendo», salientou Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, na cerimónia da primeira pedra. «Mas o Instituto do Emprego e Formação Profissional vai ter muito de pedalar, de modo a termos ativos devidamente preparados, trabalhadores de qualidade num hotel de 5 estrelas», acrescentou a autarca.

O futuro Pestana Quinta da Amoreira, que representa um investimento de 50 milhões de euros do Pestana Hotel Group, será um hotel dividido em pequenos edifícios, de um ou dois pisos, espalhadas pelos 12,8 hectares da antiga Quinta da Amoreira, perto de Alvor.

O novo hotel 5 estrelas, que terá capacidade para 450 unidades de alojamento (388 quartos e 62 suites), tem projeto da equipa da casa, coordenada pela arquiteta Iliana Rosendo França, fará uma «forte aposta nas energias renováveis», e no interior do complexo «só se poderá andar a pé ou com veículos elétricos». Terá ainda «amplas zonas verdes» e «a grande amoreira que dá nome ao local será preservada», em conjunto com «a maioria das árvores existentes», como anunciou Pedro Lopes, administrador do Pestana Hotel Group para o Algarve.

«Portugal vive um bom momento no Turismo, que está a crescer e a dar contributos importantes para as exportações e o emprego», disse Manuel Caldeira Cabral, para logo acrescentar: «projetos como este que estamos aqui a anunciar garantem que vamos crescer ainda com mais qualidade».

Mas, mesmo na cerimónia da primeira pedra do complexo, havia quem torcesse o nariz ao conceito de «all inclusive/tudo incluído», ainda que para o segmento de luxo e de famílias, anunciado pelo maior grupo hoteleiro internacional de origem portuguesa para este seu novo investimento de 50 milhões de euros.

E o administrador Pedro Lopes explicou a aposta: «será um all inclusive 5 estrelas, a exemplo das Caraíbas», um conceito que o Grupo Pestana já experimentou no Porto Santo, com muito sucesso, quer em termos de ocupação e negócio, quer quanto a prémios ganhos a nível nacional e internacional. «Esta é a fasquia que temos de atingir ou ultrapassar», disse o administrador, virando-se para quem com ele trabalha no Algarve.

A nova unidade, a primeira do género construída de raiz em todo o país, «vai atrair ao Algarve e a Portimão clientes de all inclusive 5 estrelas que hoje estão espalhados por resorts de todo o mundo», garantiu Pedro Lopes.

E, tendo em conta tudo o que o futuro Pestana Quinta da Amoreira terá para oferecer – quatro restaurantes (dos quais dois temáticos), três bares e seis piscinas, onde se inclui uma piscina para crianças, inserida na ampla área do Kids Club, feita a pensar nos mais pequenos, e uma piscina coberta inserida no Spa do hotel, ginásio, quatro salas de massagens, sauna e banho turco – os hóspedes, como acontece em qualquer all inclusive, mesmo de luxo, nem terão de sair de lá…apesar de terem a praia de Alvor ou o campo do Alto Golfe a curta distância, acessíveis a pé.

E, a julgar pelas imagens do vídeo apresentado, os hóspedes até pensarão estar num qualquer resort das Caraíbas, nem se apercebendo que, na realidade estão no Algarve, em Portugal, tal a quantidade de palmeiras que parece que serão usadas nos espaços verdes.

Isto apesar de o administrador Pedro Lopes ter garantido que o projeto de integração paisagística, a cargo do arquiteto paisagista Fausto Nascimento, irá preservar a maioria das árvores existentes na antiga quinta, em especial a amoreira, que lhe dá nome. Como resultará a mistura de alfarrobeiras com palmeiras é algo a ver, dentro de dois anos, quando o hotel de luxo abrir as suas portas.

Na cerimónia no Hotel Alvor Praia, que antecedeu a deslocação ao local onde começa agora a ser construído a nova unidade, a autarca Isilda Gomes, voltando-se para o empresário Dionísio Pestana, disse-lhe: «ousar projetos desta qualidade e dimensão é um enorme upgrade para Portimão».

Mas a presidente da Câmara salientou ainda que, depois de durante 50 anos não ter sido criado mais nenhum hotel de luxo em Portimão, agora o concelho está prestes a «duplicar o número de hotéis de 5 estrelas».

É que há um ano abriu o Pestana Race, no Autódromo Internacional do Algarve, o qual, segundo disse Pedro Lopes, «trabalha muito bem fora do Verão, sobretudo com o mundo motorizado, que é um segmento que estamos a desenvolver», agora foi lançada a primeira pedra da nova unidade de luxo do Grupo Pestana, e há ainda um outro grande investimento na calha, de outro grupo empresarial, também para a zona de Alvor, mas na área do Turismo de Saúde.


Informação retirada daqui
Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

Iate fundeado frente a Alvor foi ao fundo


Um iate com cerca de 20 metros foi encontrado afundado, na Ria de Alvor, no concelho de Portimão. O barco, que estava fundeado no porto de abrigo local, não apresenta danos estruturais aparentes e deverá ter metido água devido a uma avaria numa válvula.

Segundo revelou ao Sul Informação o capitão do Porto de Portimão, que enviou para o local elementos da Polícia Marítima, a embarcação «não apresenta sinais exteriores de degradação nem de danos, pelo que é pouco provável a hipótese de ter sido abalroada ou de ter um problema estrutural».

«O mais provável é que se tenha estragado uma válvula de admissão de água do motor e que tenha começado a meter água. Mas isso só se poderá saber ao certo quando o barco sair da água», disse o comandante Santos Arrabaça.

A embarcação em causa é um pequeno iate «do tipo motorsail, que tanto pode andar à vela como a motor».

O proprietário do barco não é português e vive fora do país, mas a Polícia Marítima já entrou em contacto com a pessoa que ficou encarregada de cuidar dele. «Essa pessoa esteve no local, forneceu os seus dados e disse que o proprietário está interessado em retirar a embarcação da água», explicou o comandante Santos Arrabaça.

Para isso, terá de ser apresentado um plano à Docapesca, que tem jurisdição sobre a zona onde a embarcação afundou. «O barco tem seguro, pelo que isso deverá acontecer nos próximos dias. Doutra forma, será a Docapesca a retirá-lo. Seja como for, a situação deve estar resolvida em poucos dias», explicou.

Esta manhã, já esteve no local um equipa de mergulhadores, contratada pelo dono da embarcação, para fazer uma avaliação da situação.

 
Informação retirada daqui
Fotos:  Elisabete Rodrigues|Sul Informação

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Entre dunas e ria, esvoaça um mundo de pássaros


Em Alvor, o maior passadiço do Algarve parece dividir para unir. De um lado, o estuário da ria. Do outro, o cordão dunar. De um lado, o longo areal. Do outro, os os resorts. De um lado, a natureza. Do outro, os veraneantes. Mundos diferentes em comunhão, como os bandos que esvoaçam nos binóculos.

Não há como nos enganarmos. Calças e calções beges, meias a despontar dos sapatos de caminhada, binóculos ao pescoço e, no ombro, um monóculo com tripé. Marcial Felgueiras e Guillaume Réthoré destoam dos desportistas e veraneantes madrugadores com quem nos cruzamos a esta hora no passadiço de Alvor, junto a Portimão. Passa pouco das 8h de uma manhã em final de Julho, começa a fervilhar o pico da época balnear algarvia.

O passadiço em madeira de Alvor ganhou o epíteto de maior da região no ano passado, ao chegar à linha de meta que as falésias recortadas da praia dos Três Irmãos impõem à língua de areia que se desenrola, branda, desde o molhe nascente da ria. Há seis anos, no entanto, que A Rocha Life — ramo turístico da organização ambiental que nasceu em Alvor há 34 anos e que entretanto se espalhou pelo mundo — realiza aqui um dos seus passeios para observação de aves (quatro horas, 3km, 40€). 

São dessa altura os primeiros troços de madeira que serpenteiam entre as dunas e o sapal, integrados no percurso “Ao sabor da maré”, já em plena área classificada da Rede Natura 2000. A associação colaborou na homologação do trilho pedestre, mas desta vez não o percorreremos na totalidade. Saltitamos, antes, entre o “estradão” de terra batida e parte dos passadiços que unem as margens salobra e salgada, no encalço das aves que habitam a ria e aquelas que vêm nidificar nesta altura do ano. Como é o caso dos borrelhos-de-coleira-interrompida. “Estão cá e já devem ter crias. Vamos ver se os encontramos”, desafia Marcial Felgueiras, director de operações da empresa.

 Nos últimos anos, a equipa tem monitorizado a população nidificante de borrelhos nas dunas de Alvor, em declínio a nível mundial. Chegaram a contabilizar-se 30 casais. “Agora nem perto.” Este ano, no entanto, o projecto está suspenso por falta de verbas e não sabem ao certo quantas aves escondem crias entre os tufos de gramíneas. Os pequenos limícolas de bico negro constroem os ninhos sobre a areia “na extremidade das dunas”, lá à boca da ria, longe dos apoios de praia e dos estacionamentos, onde existem níveis mais baixos de perturbação humana. É para lá que segue o passeio, de olhos entre o céu e a vegetação.

Pouco caminhamos até à primeira paragem. Um bando de pintassilgos e alguns pintarroxos (distinguem-se pelas manchas avermelhadas no peito e na testa) estão empoleirados em fios dourados de estorno, a planta mais abundante nas dunas de Alvor. Guillaume ajusta o monóculo e, por momentos, temos a ilusão de quase tocarmos no rasgo amarelo das asas, na cauda negra pintalgada de branco. “Gostam muito de estar por aqui porque se alimentam das sementes das gramíneas”, descreve Marcial. Guillaume é o guia, mas é o director quem vai tomando a palavra. A Gui, para facilitar, interessam sobretudo as conversas que se desenham no céu e dele mal tira os binóculos, com a paciência infinita de quem sabe que esta não é a melhor altura para a observação de aves. “Tal como os humanos, preferem resguardar-se nas sombras quando está muito calor”, retoma Marcial. Há seis anos que o biólogo francês se mudou para o Algarve, depois de ter trabalhado pela primeira vez n’A Rocha, em 2007, ao abrigo do Serviço Voluntário Europeu. “De Outubro a Março é bonito e, no Inverno, muito especial”, resume num sorriso tímido.

Dos esquivos borrelhos nem sinal, mas o passeio vai sendo brindado por outros voos. Cotovias-de-poupa, fuinhas dos juncos, andorinhas-dos-beirais, andorinhas-das-chaminés e andorinhas-daurica — muito parecidas com as segundas, mas com a cauda preta. “Parece que têm umas calças vestidas”, descreve Marcial. Pousa um cartaxo na vegetação seca, ouve-se um maçarico. Lá ao fundo, de patas enterradas nos sapais, vêem-se ostraceiros e gaivotas. “Não estou a apontar muito para elas porque são comuns mas avistam-se cinco espécies nesta altura do ano”, indica Guillaume. A saber: gaivota-de-patas-amarelas, gaivota-de-cabeça-escura, gaivota-de-asa-escura, gaivotão-real e guincho.

Esta zona da ria, encaixada entre os ribeiros e o mar, não é o melhor sítio do Algarve para a observação de aves, confessam. Mas integra “dois habitats muito próximos e bastante diferentes”: o dunar e o estuarino. Numa caminhada curta e fácil é possível avistar várias espécies e compreender os diferentes ecossistemas, programa ideal para famílias e para promover programas de educação ambiental e de consciencialização da população. É essa a grande vantagem dos passadiços, defende Marcial: “Usufruir da paisagem sem destruir o ecossistema.” E acaba por “encorajar a actividade física e o contacto com a natureza”.

Numa encosta arenosa colada ao caminho de terra batida, juras de amor são eternizadas em palavras desenhadas a seixos sobre a areia. Uma garça-real e uma garça-branca alimentam-se na margem, junto aos veleiros que se aninham aos pés da vila de Alvor. O melhor estaria guardado para o fim: um casal de coloridos abelharucos escavou um ninho num dos bancos de areia de uma pequena lagoa e um juvenil espera por comida junto à entrada da toca. “Chegam nos últimos dias de Março e vão-se embora nos primeiro dias de Setembro”, precisa Guillaume.

O passeio termina junto ao restaurante Restinga, com quem têm uma parceria desde o ano passado (passeio de uma hora e bebida, salada ou refeição por preços que vão dos 25€ aos 50€). Foi Filipe Esteves, o proprietário, quem tomou a iniciativa. “A minha família tem o restaurante há 40 anos, eu venho para aqui desde os quatro. Gostava que um dia os meus netos vissem esta beleza única como eu a conheci.” No entanto, apesar de reconhecer que o passadiço “fazia falta pelo pressuposto de conservação da natureza”, a nova estrutura de madeira veio tirar-lhe o estacionamento à porta e isso “mudou os paradigmas do negócio”. Às vezes, tem de ir buscar ou levar clientes a casa porque nem os taxistas ali querem ir. Não há iluminação mas o pó chega para cobrir os carros.

O Restinga é o último restaurante da fileira de estabelecimentos que se sucede em catadupa quase até à Prainha. A partir daqui a estrada suspensa de madeira deixa de contemplar a natureza para servir um único propósito: unir, quase em linha recta, os parques de estacionamento, os apoios de praia, os acessos ao areal, os blocos de apartamentos e as unidades hoteleiras do grupo Pestana. Cinco bordejam o passadiço — e o grupo madeirense financiou parte da estrutura. No total, são quase seis quilómetros, da ria até à praia dos Três Irmãos. O sol sobe implacável ao meio-dia, é um corrupio de sotaques, chinelos, sacos, toalhas, chapéus-de-sol e geleiras. Há quem esteja a chegar e quem parta para o almoço. Um miúdo interrompe a parafernália dos pais para esticar a mão para lá do corrimão do passadiço. “Adeus, praia”, grita entre acenos.

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