Depois de ter obtido uma declaração de impacte ambiental desfavorável, em maio, o mega empreendimento que prevê a construção de três unidades hoteleiras, no litoral de Portimão, foi reformulado e deu entrada novamente, na sexta-feira, na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve.
Na altura, a comissão regional justificou a decisão com a perspetiva de “impactes irreversíveis” na paisagem, suscetíveis de “comprometer a identidade” de uma das poucas zonas do litoral algarvio que ainda preserva os traços originais.
A operação de loteamento em causa previa a construção de três estabelecimentos hoteleiros, num total de mais de 600 camas turísticas, a cerca de 200 metros das “arribas instáveis” do troço costeiro localizado entre as praias dos Três Irmãos e do Vau.
A primeira declaração de impacto ambiental desfavorável foi também precedida de um outro parecer desfavorável, da comissão de avaliação, responsável pela análise técnica do Estudo de Impacte Ambiental (EIA).
“A comissão de avaliação considerou que, independentemente das medidas propostas no EIA para a mitigação, prevenção e compensação dos impactes identificados, o projeto não reúne condições para poder ser viabilizado, nomeadamente no que se refere a fatores como a biodiversidade e a paisagem”, concluiu a CCDR Algarve.
Porém , passados cerca de cinco meses desta decisão, os promotores que querem construir este mega empreendimento turístico (composto por quatro empresas – Top Building, Astronow, Areia Feliz e Estoril Investe) apresentaram uma nova versão do projeto, mais reduzido, para “fintar” as condicionantes ambientais.
Ainda assim, o projeto continua a prever a construção de três hotéis, embora a área total tenha passado dos 11.500 metros quadrados para os 8.237 metros quadrados, num investimento estimado entre 35 e 40 milhões de euros. Além disso, os promotores realçam que, após a reformulação do projeto, cada hotel terá 12 metros de altura, ou seja, menos três metros do que estava inicialmente previsto, e 353 quartos, menos 58 em comparação com o plano inicial.
Em relação à distância do mar, os promotores – que querem fazer deste mega empreendimento um “modelo de ecoturismo” – frisam que a construção mais próxima da orla costeira vai ficar a 230 metros.
Mas estes argumentos não convencem os ambientalistas, que destacam o facto de este local ser “um dos últimos e mais notáveis redutos não ocupados do litoral do concelho de Portimão”.
Apesar do chumbo do projeto há cerca de cinco meses, a CCDR do Algarve frisou, também, que a ocupação urbano-turística nesta zona é enquadrada por “um plano territorial que, em conjunto com outros instrumentos congéneres ainda vigentes, preveem uma edificabilidade potencial global para a faixa dos 500 metros da linha de costa do Algarve, estimada em cerca de 20 mil camas”.
Já na edição do passado dia 14 de dezembro, o JA fez o levantamento possível das 20 mil camas previstas para a faixa dos 500 metros a contar da linha de costa e falou com especialistas e ecologistas. Numa rara unanimidade, todos tecem elogios às intenções “revisionistas” da CCDR e manifestam esperanças de que estejamos a assistir ao princípio do fim das construções sobre dunas e arribas.
https://jornaldoalgarve.pt/?s=alvor
NC/JP
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