O Rio Seco é uma ribeira que nasce na zona de São Brás de Alportel e desce, passando por por Estoi e Conceição de Faro, até desaguar na Ria Formosa a Este de Faro. A nascente da zona de Santo António do Alto, existia um campo por onde passava o Rio Seco. Era ai que todos os dias se dirigia uma jovem lavadeira de Faro. Numa bela manhã, enquanto lavava a roupa dos clientes, trauteava a sua canção favorita:
Cuidando da minha vida
Fui ao rio para lavar;
Mas logo um mouro encantado
Apareceu a meu lado
Para comigo casar.
Mas porque é mouro encantado
Rapariga Cristã não pode levar!...
Foi então que viu na agua límpida da ribeira, o reflexo de um jovem bem vestido. Levantou-se de imediato e o homem que estava em pé ao seu lado disse-lhe:
- Bom dia Joana. Posso conversar contigo?
Ela, admirada respondeu:
-Falar comigo? Você não é daqui, pois não?
-Claro que sou. E já muitas vezes te ouvi cantar.
Joana respondeu:
- Desculpe mas agora não posso conversar, tenho roupa para lavar.
- Não te preocupes - disse o homem. Se quiseres não precisarás mais de lavar roupa.
- Mas eu sou pobre, senhor, este é o meu ganha pão.
- Não importa, tu és muito bonita Joana, basta que cases comigo.
A rapariga surpreendida, respondeu:
- Peço desculpa senhor, mas preciso terminar de lavar a roupa, pois a minha mãe está à minha espera.
- Está certo Joana, mas promete que regressas amanhã para conversarmos sobre o casamento e não fales deste assunto com ninguém.
A rapariga prometeu que regressaria no dia seguinte e, um pouco assustada, partiu imediatamente para casa.
Ao longo do dia a mãe de Joana sentiu que a filha andava um pouco agitada e perguntou-lhe o que se passara. A rapariga acabou por ceder à pressão da mãe e, apesar de ter jurado segredo, contou-lhe sobre o encontro que tivera no rio seco com um senhor que lhe pedira em casamento. Foi então que uma ideia lhe ocorreu:
- É isso! Ele diz que me ouviu cantar...então deve ter sido a canção do rio que chamou por ele.
A mãe, apreensiva, lembrou-se que este talvez fosse um dos mouros encantados que, se segundo os mais velhos contavam, viviam por debaixo do rio. Ordenou então à filha:
- Amanhã vais ao rio sozinha, mas levas esta cruz. Quando o senhor te pedir para casares com ele, obriga-o a jurar sobre a cruz. Se jurar, é cristão, senão... é um mouro encantado!
Joana concordou que era uma boa ideia e na manhã seguinte assim fez, colocou um crucifixo ao pescoço e partiu para o Rio Seco. Após lavar a roupa, a rapariga sentou-se numa rocha e esperou pelo distinto cavalheiro que lhe havia aparecido no dia anterior. Quando este chegou, montando um belo cavalo, cumprimentou a jovem com um grande sorriso e perguntou-lhe:
- Já pensaste na minha proposta de casamento?
Joana respondeu:
- Decidi aceitar a sua generosa proposta mas, como sou uma rapariga de famílias pobres preciso ter certeza que tem as melhores intenções.
- Claro que sim Joana. Gosto muito de ti rapariga.
-Então jure por esta cruz que vai mesmo casar comigo.
O cavalheiro jurou, mas nesse mesmo instante um relâmpago rasgou o céu, assustando o cavalo, e logo desapareceu entre a rama das árvores sem deixar rasto.
Desde então nunca mais foi visto, mas conta o povo que todos os anos, nesse mesmo dia, à mesma hora, quem passar pelo Rio Seco ainda pode escutar o som do cavalo assustado.
Quando a rapariga chegou a casa e contou à mãe a história, esta imediatamente compreendeu o que havia sucedido. O homem era afinal um mouro encantado que, para quebrar o seu feitiço, precisava conquistar o amor de uma jovem cristã. Contudo, ao jurar pela cruz, traiu a sua religião e foi castigado por Alá!
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