Há uns cem anos, ou mais, todas as noites, à meia-noite, ouvia-se tocar um sino da igreja de S. Pedro, como se fosse para a missa.
Toda a gente se encolhia com medo, resguardava-se nas suas casas, e não havia quem quisesse passar a tal hora pelas imediações da igreja.
O Prior de então, homem animoso e destemido e incomodado com o assunto, chalaceava com a história. Por fás e nefas, resolveu uma noite ir ver de que se tratava. Coragem, não lhe faltava.
Chegou ao largo de São Pedro e deparou com a porta da igreja aberta e a igreja iluminada.
- "Aqui há coisa!..." - pensou
E entrou, com todo o cuidado na igreja.
Junto ao altar, lá ao fundo, estava um padre paramentado.
Avançou pela nave central até junto dele.
E, então assustado, o corpo tremendo, ouviu estas palavras:
- Obrigado por ter vindo. Há muitos anos que eu aqui venho todas as noites para celebrar missa, de que recebi a esmola e não cheguei a celebrá-la em vida. Mas, fui condenado a não poder celebrá-la sem que aparecesse acólito. Agradeço-lhe que me ajude e aviso-o de que deve sair antes da bênção. Não esqueça, Reverendo! Saia antes da bênção!
O pároco ficou próximo do altar, acolitando aquela alma que rezava a missa.
A missa celebrou-se.
Pode-se calcular como o prior ajudaria àquela missa, apesar de todo o seu sangue frio.
Quando se aproximou a bênção, dirigiu-se pressuroso para a porta e, apenas a tinha transposto, ela fechou-se brutal e sonora, e a luz apagou-se repentinamente no interior do templo.
De seguida, já se encontrava fora da igreja de São Pedro, o bom do pároco, vidrado de medo, ainda ouviu um estrondo medonho, como de trovoada se tratasse.
E... nunca mais se ouviu tocar o sino à meia-noite.
A não ser quando algum vivo o toca!...
Esse sino pequeno, do lado externo da torre tem esculpida uma imagem de santo com uma criança pela mão (talvez S. José) e do outro lado uma cruz. Também se lê nele uma inscrição:
"SANTOS, JOSÉ, ME FEZ, NO ANNO DE 1767"
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