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domingo, 17 de dezembro de 2023

A lenda da moura na nora do rio seco

Numa agradável noite de primavera, poucos dias depois da tomada do castelo de Faro, passava um soldado cristão muito próximo do Rio Seco, quando ouviu duas vozes tristes. Parou e pôs-se à escuta, percebendo rapidamente que se tratava de uma conversa entre um velho mouro e uma jovem moura. O homem, angustiado, dizia:

 - Lamento minha filha, mas vais ter de ficar aqui encantada.

 - E será por muito tempo, meu pai? Perguntou a rapariga.

   - Até que esta nora, dentro da qual mandei construir o teu palácio, seja esgotada a baldes, sucessivamente e sem intervalos. E ao mesmo tempo que proferiu estas palavras, fez uns sinais e levantou os olhos para a lua. Resignada, a jovem moura não disse uma única palavra e deixou-se lançar para o fundo da nora. Feito isto, o velho mouro desapareceu subitamente.

    No dia seguinte, o soldado cristão voltou àquele lugar e viu a nora. Procurou então saber a quem pertencia o engenho mourisco e comprou-o. De seguida, pegou num grande balde e começou a retirar água da nora. Trabalhou um dia inteiro sem interrupção e, quando finalmente conseguiu ver o fundo da nora já praticamente seca, desceu através de uma corda. Mal chegou ao fundo apareceu-lhe uma grande serpente que saiu de um buraco que comunicava para a nora. Assustado com o bicho, voltou a subir pela corda e saltou para fora da nora. Nunca mais ali voltou, mas soube, alguns dias depois, que a nora estava completamente entupida, porque as suas paredes tinham caído. Ora contam os antigos que, nesse mesmo sitio, durante muitos anos continuou a aparecer uma moura encantada.

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