Numa agradável noite de primavera, poucos dias depois da tomada do castelo de Faro, passava um soldado cristão muito próximo do Rio Seco, quando ouviu duas vozes tristes. Parou e pôs-se à escuta, percebendo rapidamente que se tratava de uma conversa entre um velho mouro e uma jovem moura. O homem, angustiado, dizia:
- Lamento minha filha, mas vais ter de ficar aqui encantada.
- E será por muito tempo, meu pai? Perguntou a rapariga.
- Até que esta nora, dentro da qual mandei construir o teu palácio, seja esgotada a baldes, sucessivamente e sem intervalos. E ao mesmo tempo que proferiu estas palavras, fez uns sinais e levantou os olhos para a lua. Resignada, a jovem moura não disse uma única palavra e deixou-se lançar para o fundo da nora. Feito isto, o velho mouro desapareceu subitamente.
No dia seguinte, o soldado cristão voltou àquele lugar e viu a nora. Procurou então saber a quem pertencia o engenho mourisco e comprou-o. De seguida, pegou num grande balde e começou a retirar água da nora. Trabalhou um dia inteiro sem interrupção e, quando finalmente conseguiu ver o fundo da nora já praticamente seca, desceu através de uma corda. Mal chegou ao fundo apareceu-lhe uma grande serpente que saiu de um buraco que comunicava para a nora. Assustado com o bicho, voltou a subir pela corda e saltou para fora da nora. Nunca mais ali voltou, mas soube, alguns dias depois, que a nora estava completamente entupida, porque as suas paredes tinham caído. Ora contam os antigos que, nesse mesmo sitio, durante muitos anos continuou a aparecer uma moura encantada.
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